Doença Arterial Periférica (DAP)

20 dezembro, 2023


Doença Arterial Periférica (DAP)


A doença arterial periférica (DAP) é uma condição vascular crônica que afeta os vasos sanguíneos fora do coração e cérebro, comprometendo o fluxo sanguíneo para os membros inferiores, como pernas e pés. Esta condição, muitas vezes subdiagnosticada, é de grande relevância devido aos seus impactos na qualidade de vida e potenciais complicações sérias. Neste texto, exploraremos em detalhes a prevalência, os sinais e sintomas, o diagnóstico, o tratamento e as estratégias de prevenção relacionadas à doença arterial periférica.


Prevalência:


A DAP é uma condição comumente associada ao envelhecimento, sendo sua prevalência significativamente maior em idosos. Fatores de risco como tabagismo, diabetes, hipertensão arterial e hiperlipidemia também desempenham um papel crucial no desenvolvimento da doença. Estudos epidemiológicos indicam que a prevalência global da DAP está em ascensão, possivelmente devido ao aumento da expectativa de vida e mudanças nos estilos de vida, como dietas pouco saudáveis e sedentarismo.


Sinais e Sintomas:


Os sintomas da DAP variam, mas frequentemente incluem dor nas pernas durante a atividade física, conhecida como claudicação intermitente. Isso ocorre devido à diminuição do fluxo sanguíneo para os músculos das pernas durante o exercício. Em estágios mais avançados, os pacientes podem experimentar dor constante, mesmo em repouso, além de alterações na cor da pele, perda de pelos e unhas quebradiças.


Em casos mais graves, a DAP pode levar a úlceras ou feridas nas pernas que cicatrizam lentamente e, em situações extremas, à gangrena. Estes são sinais de um comprometimento vascular significativo e requerem atenção médica imediata.


Diagnóstico:


O diagnóstico preciso da DAP é essencial para guiar o tratamento adequado. Exames clínicos, como a avaliação dos pulsos periféricos, podem fornecer informações preliminares. Entretanto, testes mais específicos são frequentemente necessários.


O índice tornozelo-braquial (ITB) é um teste comum usado para diagnosticar a DAP. Ele envolve a medição da pressão arterial nos tornozelos e nos braços para determinar o grau de obstrução do fluxo sanguíneo nas extremidades inferiores. Testes de imagem, como angiografia por ressonância magnética (ARM) e ultrassonografia Doppler, também são empregados para avaliar a extensão e localização dos bloqueios arteriais.


Tratamento:


O tratamento da DAP é multifacetado, visando aliviar os sintomas, melhorar a qualidade de vida e prevenir complicações graves. Mudanças no estilo de vida desempenham um papel fundamental, incluindo a cessação do tabagismo, adoção de uma dieta saudável e a prática regular de exercícios físicos.


Em alguns casos, medicamentos são prescritos para controlar fatores de risco, como hipertensão e hiperlipidemia. Medicamentos antiagregantes plaquetários, como a aspirina, também são comumente usados para reduzir o risco de formação de coágulos.


Em situações mais avançadas, procedimentos invasivos, como angioplastia ou cirurgia de bypass vascular, podem ser necessários para restaurar o fluxo sanguíneo adequado. A escolha do tratamento dependerá da gravidade da condição e das características específicas do paciente.


Prevenção:


A prevenção da DAP é essencial, especialmente considerando seus fortes vínculos com fatores de risco modificáveis. A cessação do tabagismo é de extrema importância, pois o tabaco é um dos principais contribuintes para o desenvolvimento da doença. O controle da diabetes, hipertensão e hiperlipidemia através de medicação e mudanças no estilo de vida também desempenham um papel vital na prevenção.


A promoção de um estilo de vida saudável, que inclui uma dieta balanceada e a prática regular de exercícios, é uma estratégia preventiva eficaz. O monitoramento regular da pressão arterial, glicose e colesterol é crucial para identificar precocemente qualquer alteração que possa contribuir para o desenvolvimento da DAP.


Em resumo, a doença arterial periférica é uma condição vascular séria que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Com uma abordagem abrangente, que inclui mudanças no estilo de vida, tratamento medicamentoso e, em alguns casos, intervenções cirúrgicas, é possível gerenciar eficazmente a DAP e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. A prevenção, através do controle de fatores de risco, desempenha um papel crucial na redução da incidência dessa doença vascular debilitante.

 

Dieta do Mediterrâneo

20 setembro, 2023


A dieta do Mediterrâneo é uma abordagem alimentar saudável inspirada nos padrões alimentares tradicionais dos países que cercam o Mar Mediterrâneo, como Grécia, Itália, Espanha e partes do sul da França. Essa dieta tem recebido atenção internacional devido aos seus inúmeros benefícios para a saúde e é considerada uma das dietas mais equilibradas e sustentáveis do mundo.

Principais benefícios da dieta do Mediterrâneo:

  • Saúde cardiovascular: Uma das principais vantagens da dieta do Mediterrâneo é a proteção contra doenças cardiovasculares. Ela é rica em gorduras monoinsaturadas, encontradas no azeite de oliva, que têm propriedades anti-inflamatórias e ajudam a reduzir o colesterol LDL (ruim). Além disso, a dieta é rica em antioxidantes, como flavonoides e polifenóis, que promovem a saúde do coração.
  • Longevidade: As populações que aderem à dieta do Mediterrâneo têm sido associadas a uma maior expectativa de vida. Isso pode ser atribuído à ingestão de alimentos frescos, ricos em nutrientes e à redução do risco de várias doenças crônicas.
  • Controle de peso: A dieta mediterrânea é equilibrada e inclui uma variedade de alimentos de baixa caloria, como frutas, vegetais, legumes e grãos integrais. Além disso, o consumo moderado de vinho tinto (principalmente durante as refeições) tem sido associado à manutenção do peso saudável.
  • Diabetes: A dieta é rica em fibras, o que ajuda a regular os níveis de açúcar no sangue. Além disso, as gorduras saudáveis e a baixa ingestão de açúcar refinado podem reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2.
  • Saúde cerebral: Estudos sugerem que a dieta do Mediterrâneo pode estar ligada a um menor risco de declínio cognitivo e doenças como o Mal de Alzheimer devido à presença de antioxidantes e ácidos graxos ômega-3.

Exemplos de alimentos na dieta do Mediterrâneo:

  • Azeite de oliva extra virgem: Usado como principal fonte de gordura na culinária mediterrânea, é rico em ácidos graxos monoinsaturados.
  • Frutas frescas: Incluem variedades como maçãs, peras, uvas, figos e cítricos, que fornecem vitaminas, minerais e fibras.
  • Vegetais: Tomates, pepinos, pimentões, espinafre, berinjela e abobrinha são consumidos regularmente, proporcionando uma grande variedade de nutrientes.
  • Grãos integrais: Pão integral, massa de trigo integral, arroz integral e aveia são fontes importantes de fibras e energia.
  • Peixes: Salmão, sardinha, atum e bacalhau são ricos em ácidos graxos ômega-3 e são consumidos regularmente.
  • Legumes e leguminosas: Feijões, lentilhas e grão-de-bico são fontes de proteína e fibras.
  • Nozes e sementes: Amêndoas, nozes, pistaches e sementes de chia fornecem gorduras saudáveis, proteína e minerais.
  • Vinho tinto (com moderação): Consumido durante as refeições, o vinho tinto é uma fonte de antioxidantes, especialmente o resveratrol.

A dieta do Mediterrâneo não apenas oferece benefícios para a saúde, mas também promove o prazer e a convivialidade em torno das refeições, enfatizando a importância de compartilhar alimentos frescos e preparados com amor. Incorporar os princípios dessa dieta em sua alimentação pode ser uma escolha saborosa e saudável para promover uma vida longa e vibrante.

 

Pé Diabético

16 agosto, 2023

O pé diabético é uma complicação crônica que afeta pessoas que sofrem de diabetes mellitus, uma condição caracterizada por níveis elevados de açúcar no sangue. O pé diabético resulta de uma combinação de fatores, incluindo danos aos nervos (neuropatia diabética) e má circulação sanguínea (insuficiência vascular). Essas condições tornam os pés dos pacientes diabéticos mais vulneráveis a feridas, infecções e dificuldade de cicatrização.

A neuropatia diabética é uma das principais causas do pé diabético. Ela resulta em perda de sensibilidade nos pés, o que significa que os pacientes podem não sentir dor ou desconforto mesmo quando uma lesão ou ferida está presente. Isso pode levar a uma falta de atenção às feridas, permitindo que elas se agravem e se tornem infecções sérias antes que sejam detectadas.

A insuficiência vascular é outra característica do pé diabético. A má circulação sanguínea dificulta o fornecimento adequado de oxigênio e nutrientes para os tecidos dos pés, o que afeta a capacidade do corpo de combater infecções e promover a cicatrização. Mesmo pequenos cortes ou feridas podem se tornar um grande problema devido à falta de circulação eficaz.

A prevenção é uma parte crucial no manejo do pé diabético. Pessoas com diabetes devem tomar medidas para manter seus níveis de açúcar no sangue sob controle por meio de dieta, exercícios e medicamentos prescritos. Além disso, é essencial que os pacientes examinem seus pés diariamente em busca de quaisquer sinais de feridas, cortes, bolhas ou inflamações. O uso de calçados adequados e confortáveis também é recomendado para minimizar o risco de lesões nos pés.

No caso de feridas ou lesões nos pés, é crucial buscar cuidados médicos imediatamente. Os profissionais de saúde podem realizar tratamentos adequados, como limpeza das feridas, administração de antibióticos e desbridamento (remoção de tecido morto), para prevenir a progressão das infecções. Em casos graves, em que a infecção é profunda ou a circulação é severamente comprometida, pode ser necessário realizar intervenções cirúrgicas.

Em resumo, o pé diabético é uma complicação séria que pode resultar em feridas, infecções e até amputações se não for tratado adequadamente. A prevenção e a vigilância são as melhores abordagens para evitar essa condição. Pessoas com diabetes devem trabalhar em estreita colaboração com seus profissionais de saúde para manter seus níveis de açúcar no sangue sob controle, além de cuidar regularmente de seus pés e procurar atendimento médico sempre que necessário.

 

Erisipela

7 março, 2023

O que é Erisipela:

A erisipela é uma infecção na pele, causada na maioria das vezes por uma ou mais bactérias. Também pode ser causadas por fungos. Podem ocorrer em qualquer idade e está muito associada ao quadro de insuficiência venosa(varizes mais avançada). Possui uma evolução mais grave em pacientes diabéticos, principalmente os que não tem o controle regular da glicemia.

A bactéria penetra no corpo através de qualquer tipo de ferida, principalmente entre os dedos.(“frieiras”). Esta bactéria encontra um local favorável para se reproduzir, principalmente em pacientes com insuficiência venosa e edema.

O principal sinal clínico é a vermelhidão na pele, associado a calor local e dor. Pode também evoluir para febre, calafrios, cansaço. Geralmente está associado também a edema local. Com a demora do diagnostico, ou nos diabéticos, podem evoluir para a forma bolhosa e até feridas com necrose(cor negra que indica a morte do tecido local). Podem ocorrer em qualquer local, porem são mais comuns em membros inferiores.

O diagnostico se faz através da avaliação clinica pelo especialista.

O tratamento é feito com o uso de antibióticos para combater as bactérias e repouso em casa por período a ser avaliado pelo medico especialista. O cuidado com os pés ou outra porta de entrada para as bactérias deve ser feito. Medicação para febre e dor podem ser associadas.

Dependendo da gravidade da lesão e/ou do paciente, este pode ter indicação de internação hospital, para melhora da infecção.

Para evitar o quadro de erisipela de repetição, devem ser tomadas medidas de higiene local, tanto nas pernas quanto nos pés, principalmente com limpeza entre os dedos e secar após o banho. Deve-se evitar ferimentos de insetos, que também com a coceira se tornam uma porta de entrada para bactérias. As meias elásticas também devem ser usadas para diminuir a pressão sobre as veias e o edema local.

Sempre procure o especialista para avaliação e dúvidas quanto os cuidados com as pernas.

 

Dieta Anti-vitamina K

23 agosto, 2022

Cuidados com a alimentação


A vitamina K, conhecida como vitamina anti-hemorrágica, é uma 

substância obtida através da alimentação e também é produzida pelas bactérias do nosso intestino. Ela auxilia na formação dos fatores de  coagulação, fazendo com que o sangue fique “mais grosso”. O uso de  anticoagulante com a finalidade de “afinar” o sangue pode ser influenciado pela presença de vitamina K em alguns alimentos. Portanto, você 

precisa estar atento à sua alimentação diária, conhecendo os alimentos ricos e pobres em vitamina K e evitando modificações bruscas na ingestão destes alimentos.


Alimentos ricos em vitamina K


Vegetais e folhas verdes: agrião, alface, folhas de beterraba, 

brócolis, couve-manteiga, folhas de couve-flor, espinafre, folhas 

de nabo, repolho, salsa, casca de pepino, mostarda, radite, chicória, rúcula.

Óleo e gorduras: azeite de oliva, maionese, margarina, óleo de 

canola, óleo de soja. Fígado bovino.


Alimentos pobres em vitamina K


Vegetais: abóbora, aipo, alho, batata inglesa, batata doce, cebola, cenoura, feijão, tomate, aipim. Frutas. Carnes de gado, aves e peixes. Gorduras: manteiga. Leite e derivados: queijo, iogurte, requeijão, ricota etc.

Farináceos: arroz, massa, farinhas, pães, aveia.

Bebidas: café, chás infusão, refrigerantes, sucos de frutas.

Doces que não contenham gordura vegetal.


Obs.: O que pode aumentar o conteúdo de vitamina K em um alimento 

que seja pobre nesta vitamina é a maneira de prepará-lo. Por exemplo: 

a batata inglesa crua é pobre em vitamina K, mas frita é rica nesta vitamina.

Portanto, cuidado com as frituras, principalmente se forem feitas como óleo de soja (que é rico em vitamina K). Cuidado também com o óleo usado para temperar sua salada.

Evite suplementos vitamínicos e suplementos alimentares líquidos, frequentemente usados nas dietas para perder peso.

As bebidas alcoólicas devem ser evitadas, pois o álcool aumenta o risco 

de sangramento.

Os alimentos ricos em vitamina K são nutritivos e importantes para a nossa saúde. Não deixe de comê-los. O que você deve fazer é manter uma dieta constante, sem muitas alterações em relação a estes alimentos.

 

Vinho e Saúde

23 agosto, 2022


Desde a antigüidade, o vinho apresenta-se intimamente ligado à evolução da medicina, desempenhando sempre um papel principal. Os primeiros praticantes da arte da cura, na maioria das vezes curandeiros ou religiosos, já empregavam o vinho como remédio. Papiros do Egito antigo e tábuas dos antigos Sumérios (cerca de 2200 a.C.) já traziam receitas baseadas em vinho, o que o torna a mais antiga prescrição médica documentada.

O grego Hipócrates (cerca de 450 a.C.), tido como o pai da medicina sistematizada, recomendava o vinho como desinfetante, medicamento, um veículo para outras drogas e parte de uma dieta saudável. Para ele, cada tipo de vinho teria uma diferente função medicinal.

Galeno (século II d.C.), o mais famoso médico da Roma antiga, empregava o vinho na cura das feridas dos gladiadores, agindo este como um desinfetante.

Também os Judeus antigos tinham o vinho como medicamento. Segundo o Talmud, "sempre que o vinho faltar, a medicina tornar-se-á necessária".

Foi na Universidade de Salermo (Itália), fundada no século XI, que a importância do vinho sobre a dieta e a saúde foi codificada. Lá, correntes clássicas e árabes se fundiram, fornecendo as bases da medicina européia. O "Regime de Salermo" especificava "diferentes tipos de vinho para diversas constituições e humores".

Avicena (século XI DC), talvez o mais famoso médico do mundo árabe antigo, reconhecia a importância do vinho como forma de cura, embora seu emprego fosse limitado por questões religiosas.

O uso medicinal do vinho continuou por toda a Idade Média, sendo divulgado principalmente por monastérios, hospitais e universidades.

Até o século XVIII, muitos consideravam mais seguro beber vinho do que água pois esta era, freqüentemente, contaminada. Conta a lenda de Heidelberg, na Alemanha, que o guardião do grande barril (Große Faß) onde o soberano guardava todo o vinho recolhido como imposto, só bebia vinho. Seu nome era "Perkeo" (do italiano “Perche no” - por que não). Certa feita deram um líquido diferente para que ele bebesse e este morreu imediatamente. O tal líquido assassino era nada mais nada menos que água.

Em 1865-66, Louis Pasteur, o grande cientista francês nascido na região do Jura (terra dos famosos vin jaune e vin de paille), empregou o vinho em diversas de suas experiências, declarando que o vinho é "a mais higiênica e saudável das bebidas".

Em 1892, durante a grande epidemia de cólera em Hamburgo, o vinho era adicionado à água com intuito de esterilizá-la.

A partir do final do século XIX, a visão do vinho como medicamento começou a mudar. O alcoolismo foi definido como doença e os malefícios de seu consumo indiscriminado começaram a ser estudados. Nas décadas de 70 e 80, o consumo de álcool foi fortemente atacado por campanhas de saúde pública exaltando as complicações de seu uso em excesso. Entretanto, várias pesquisas científicas bem conduzidas têm demonstrado que, consumido com moderação, o vinho traz vários benefícios à saúde.

 

O consumo moderado

"Nem muito e nem muito pouco" parece ser o princípio para se realçar os efeitos benéficos do vinho sobre a saúde. Entretanto, as autoridades de saúde de vários países têm encontrado dificuldade em estipular o que pode ser considerado "consumo sensato". Na França, a ingestão de até 60 g de álcool por dia é segura para homens. Por outro lado, no Reino Unido, recomenda-se menos de 30 g por dia.

Vários são os fatores que influenciam estes limites: sexo, idade, constituição física, patrimônio genético, condições de saúde e uso de outras substâncias (drogas, medicamentos etc). Em linhas gerais, um homem pode consumir até 30 g de álcool por dia. Para as mulheres, por diversas razões (menor tolerância, menor proporção de água no organismo etc) recomenda-se até 15 g por dia. A diferença entre consumo moderado e exagerado pode significar a diferença entre prevenir e aumentar a mortalidade.

Além da quantidade, a regularidade também é importante para se obter os efeitos benéficos do vinho. Os que exageram nos finais de semana e se poupam nos outros dias podem sofrer todos os malefícios da ingestão exagerada e aguda do vinho sem nenhum ganho para a saúde.

 

O Paradoxo Francês

Uma grande reviravolta na relação entre vinho e saúde ocorreu no início da década de 90 com a divulgação do Paradoxo Francês. Durante um programa de televisão nos EUA, o cientista francês Serge Renaud mostrou que estudos epidemiológicos em escala mundial evidenciaram que os franceses apresentavam 2,5 vezes menos mortes por doenças coronarianas que os americanos, apesar de fumarem muito e consumirem a mesma quantidade de gorduras. A principal explicação para tal paradoxo estaria no consumo regular e moderado de vinho. Como era de se esperar, após a transmissão do programa, o consumo de vinho tinto nos EUA multiplicou por 4. Tal paradoxo foi, posteriormente, publicado na revista inglesa The Lancet, uma das mais conceituadas revistas médicas do mundo, dando origem a uma enxurrada de artigos sobre os benefícios do vinho sobre a saúde nos tempos modernos.

 

Álcool, taninos, flavonóides, catecinas, resveratrol, etc

Há muito sabe-se que o álcool, consumido em pequenas doses regulares, traz benefícios para a saúde. Estudos epidemiológicos mostram que o álcool presente no vinho, cerveja e destilados pode diminuir a mortalidade por infarto do miocárdio, isquemia cerebral etc. Entretanto, o vinho é quem mais desperta interesse dos cientistas por apresentar, além do álcool, diversas substâncias antioxidantes em sua composição. Entre os mais de 1000 compostos encontrados no vinho, os polifenóis (flavonóides, taninos, catecinas, resveratrol etc) são os mais estudados.

Os polifenóis, derivados de várias plantas, são os antioxidantes mais encontrados em nossa dieta. De acordo com sua origem, apresentam diferentes estruturas químicas. Atualmente, vários estudos têm demonstrado que o resveratrol, um antioxidante natural presente em vinhos tintos e brancos, está associado com os efeitos benéficos do vinho na doença coronária. Além disso, em laboratório, o resveratrol tem mostrado efeito protetor contra o câncer, embora estes resultados ainda não tenham sido demonstrados na prática clínica. Também controversa é a hipótese de que os flavonóides parecem mostrar um efeito protetor contra doenças cardiovasculares, atuando sobre o LDL (colesterol ruim).

 

Vinho e Saúde: Alguns fatos

Doenças coronárias: o consumo moderado de vinho controla os níveis sangüíneos de algumas substâncias químicas inflamatórias chamadas citocinas. Estas, por sua vez, afetam o colesterol e as proteínas da coagulação. O vinho é capaz de reduzir os níveis de LDL e aumentar os de HDL (colesterol bom). Com relação à coagulação, o vinho torna as plaquetas presentes no sangue menos aderentes e reduz os níveis de fibrina, evitando que o sangue coagule em locais errados. Estes efeitos poderiam prevenir o entupimento de uma coronária, evitando um infarto do miocárdio.

Doenças do cérebro: Os efeitos mais conhecidos do álcool sobre o sistema nervoso são a embriaguez e a dependência alcoólica. Entretanto, quando consumido com parcimônia, o vinho parece reduzir o risco de demência, incluindo o Mal de Alzheimer. Segundo alguns especialistas, os polifenóis presentes no vinho (principalmente nos tintos) seriam os responsáveis por evitar o envelhecimento das células cerebrais. É intrigante notar que, proporcionalmente falando, a ação antioxidante dos polifenóis dos vinhos brancos é superior à dos tintos. Entretanto, a quantidade de polifenóis dos tintos é muito superior à dos brancos, tornando estes vinhos mais interessantes para as células cerebrais. Além da ação antioxidante, os vinhos melhoram a circulação cerebral, como o fazem com a circulação coronária. Sabe-se, ainda, que as chances de apresentar depressão são menores em consumidores moderados de vinho.

Doenças respiratórias: Experimentos recentes têm demonstrado que o vinho é capaz de reduzir as chances de uma infeção pulmonar, sendo mais eficaz que alguns antibióticos modernos.

Doenças do aparelho digestivo: Há vários séculos, São Paulo já recomendava "um pouco de vinho para a saúde do estômago". Hoje, sabe-se que o consumo moderado de vinho está associado a uma menor incidência de úlcera péptica por uma série de razões: alívio do estresse, inibição da histamina, ação antimicrobiana contra o Helicobacter pylori, bactéria implicada na gênese da úlcera duodenal. Por atuar sobre o colesterol, o vinho parece reduzir as chances de formação de cálculos no interior da vesícula biliar.

Doenças do aparelho urinário: Estudos mostram que o vinho é capaz de reduzir em até 60% o risco de formação de cálculos urinários, ao estimular a diurese.

Diabetes: o vinho consumido de forma moderada melhora a sensibilidade das células periféricas à insulina, sendo interessante nos pacientes com diabetes tipo 2 (não insulino-dependente). Além disto, o vinho reduz as chances de morte por infarto do miocárdio em pacientes com diabetes tipo 2. Em mulheres, um estudo mostra que o vinho pode reduzir as chances de surgimento de diabetes.

Sangue e anemia: O álcool ajuda o organismo a absorver melhor o ferro ingerido nos alimentos. Além disto, um copo de vinho tinto contém, em média, 0,5mg de ferro.

Ossos: alguns estudos populacionais têm demonstrado que o consumo de pequenas quantidades de vinho é capaz de melhorar a densidade óssea, reduzindo as chances de osteoporose.

Visão: O vinho reduz a degeneração macular, causa comum de cegueira em idosos.

Câncer: A possibilidade de que os antioxidantes presentes no vinho pudessem prevenir alguns tipos de câncer despertou o interesse de muitos pesquisadores em todo o mundo. Alguns estudos populacionais mostram uma redução da mortalidade por doença coronária e por câncer em bebedores comedidos de vinho. Por exemplo, homens que consomem vinho sensata e regularmente têm menor chance de desenvolver Linfoma não-Hodgkin.

Como foi dito repetidas vezes, o consumo moderado parece ser o caminho para a felicidade. Muito ainda precisa ser entendido sobre os reais efeitos, benéficos e maléficos, do vinho sobre a saúde antes de torná-lo a panacéia universal para as moléstias do mundo moderno. Entretanto, em pouquíssimas situações, um remédio pôde ser tão infinitamente agradável e prazeroso.