Relação Médico-Paciente: O Poder do Olhar em Tempos de Tecnologia


A medicina sempre foi – e deve continuar sendo – uma ciência a serviço das pessoas. No entanto, em tempos de avanços tecnológicos acelerados, muitas vezes corremos o risco de perder de vista o que está no coração do ato médico: a relação entre médico e paciente.


Nos consultórios e hospitais, equipamentos modernos, softwares de prontuário eletrônico e ferramentas de apoio à decisão clínica são aliados indispensáveis. Eles nos permitem diagnosticar mais rápido, reduzir erros e acompanhar resultados com maior precisão. A tecnologia veio para agregar, e não há como negar seu valor.


Mas há algo que nenhum algoritmo substitui: o olhar nos olhos. É nesse gesto simples que o paciente percebe que não é apenas um número, um exame ou um histórico clínico digitalizado. O olhar transmite empatia, acolhimento e atenção genuína. É ali que nasce a confiança – base fundamental para que qualquer tratamento tenha sucesso.


O desafio dos tempos modernos


Muitos pacientes relatam que, durante uma consulta, sentem que o médico olha mais para a tela do computador do que para eles. Não é incomum sair com a sensação de que foram “digitados”, mas não escutados. Essa experiência ruim pode gerar distanciamento, insegurança e até mesmo comprometer a adesão ao tratamento.


É preciso encontrar um equilíbrio. O uso da tecnologia deve ser feito de forma a não se sobrepor ao essencial: ouvir, orientar e tratar o ser humano à nossa frente.


A arte de escutar


Ouvir com atenção não é apenas captar sintomas, mas compreender medos, expectativas e contextos de vida. Muitas vezes, a resposta que o paciente procura não está apenas em um exame sofisticado, mas na forma como ele é acolhido e guiado no processo de cuidado.


O futuro que precisamos construir


O desafio da medicina contemporânea é integrar o melhor da tecnologia ao melhor da humanidade. Usar a tela como apoio, mas sem deixar de olhar nos olhos, de ouvir e de se emocionar com o paciente. Registrar no prontuário sem perder a escuta ativa. Orientar com base em evidências, mas com a sensibilidade de quem entende que cada paciente é único.


No fim, a verdadeira inovação em saúde não está apenas nos aparatos tecnológicos, mas na capacidade de sermos cada vez mais humanos em nossa prática.


Fernando Sant'Anna

Angiologista e Cirurgião Vascular